MORTE - por Gustavo Samuel

Sim, essa é outra história com personagens solitários, melancólicos, cheia de mortes e lágrimas. Não poderia ser diferente, afinal de contas, eu sou a principal personagem dessas seqüências de palavras que não deveriam ser ditas. Ah, sim! Permitam que eu me apresente. Sou a Morte.
Inflexível, implacável, fria. Sinto muito em destruir seus conceitos pré-concebidos, mas não sou assim. Bem que gostaria de ser assim, pelo menos não me sentiria tão triste, atormentada pelo meu inevitável destino melancólico.
Desgraçadamente, tenho coração, que se parte toda a vez que uma mãe tem que chorar no túmulo de seu filho ou quando um homem urra de dor quando não sente mais a respiração da esposa.
Desgraçadamente, tenho coração. Um coração rebelde, que se lança sempre ao impossível. Quer se apaixonar, o tolo. Bate mais forte quando encontra alguém especial, mas o amor não é feito para a Morte.
Ninguém pode escapar de mim. O mais leve toque já é suficiente para fazer cumprir o destino. Consequentemente, nunca terei o prazer de tocar no rosto de uma mulher ou mordiscar seus seios. Quando me deixo levar pelo desejo, por uma esperança idiota de que dessa vez algo diferente irá acontecer, uma jovem na flor da idade ou um rapaz cheio de vida deixa de existir nas minhas mãos.
Talvez seja uma praga ou uma retribuição pelo serviço que nunca escolhi. Talvez as palavras daquela senhora, que soluçava desesperadamente ao lado da companheira em uma cama de hospital, mudaram meu passado e futuro:
- Maldita. Levaste para sempre a única razão para meu viver. Separaste duas almas gêmeas e ainda ris tranquilamente. Maldita, maldita, maldita. Mas acredites, um dia terás que me levar também, pois esta é a ordem natural das coisas e não podes mudá-la. Ainda que demore muitos anos, serei feliz ao lado de minha amada nos doces Campos Elíseos no reino de Hades. Tu, no entanto, és desgraçada. Viverás para sempre, sozinha e amaldiçoada.
Viverei para sempre, sozinha e amaldiçoada. Sozinha, para sempre e amaldiçoada. Amaldiçoada, para sempre sozinha. Algumas pessoas sorriem quando me veem e suspiram aliviadas. Eu nunca terei nem mesmo esse consolo. Viverei sozinha, para sempre amaldiçoada.

2 comentários:

  Unknown

28 de outubro de 2009 às 17:32

FANTASTICO, AMEI...

  Unknown

31 de janeiro de 2015 às 16:18

Fantástico. Amei as descrições e como você a vê de verdade